Na casa da vovó
Mãe educa, avó estraga? Com diálogo e definição de papéis, é possível harmonizar esta relação.
Bolo de chocolate
Muitos pais, por saberem da importância de estabelecer rotinas com os
pequenos desde cedo, organizam horários para alimentação, sono,
brincadeiras, restringindo algumas coisas aos finais de semana e
proibindo outras, inapropriadas para a idade. Os filhos costumam
respeitar esta dinâmica em casa, mas quando estão na casa dos avós ou
sob o cuidado deles, tudo parece mudar. Usando de seu charme, as
crianças conseguem convencê-los de quase tudo, incluindo comer doces
antes da refeição ou dormir sem tomar banho. Por que isso acontece? É
prejudicial à criança a transgressão de regras com os avós?
Dizem que os avós são pais duas vezes, mas com a vantagem de não
precisar educar. Por isso, aproveitam esta condição para presentear e
encher os pimpolhos de agrados, amor e carinho, dando menos importância
aos limites e à rotina. Para eles, estar com os netos é uma situação
ocasional, então deixam que a criança escolha o que e como quer fazer.
Casa de avô torna-se um refúgio. É comum as crianças relatarem que lá é
gostoso porque tem sempre bolo de chocolate e brincadeiras fora do
horário, que podem assistir mais TV ou brincar à vontade. Ana Carolina
Martinez, advogada, 36 anos, conhece bem esta realidade. Mãe de Maria
Luiza, de 2 anos, desabafa "Minha mãe sempre deixa tudo, nunca contraria
a Malu. Ela sabe disso e abusa, faz manha e consegue o que quer".
Mãe educa, avó estraga?
Se em curto prazo parece que os avós estão estragando a educação, lá na
frente o saldo é positivo. Especialistas em educação infantil são
unânimes em reconhecer os benefícios da relação. O bebê que recebe o
afeto do vovô e da vovó torna-se um adulto com, por exemplo, excelentes
recordações da própria infância, facilidade no convívio social e no
estabelecimento de vínculos amorosos e que nutre carinho pelos idosos.
Para os avós também faz bem: sentem-se rejuvenescidos pelo contato com
bebês, veem a oportunidade de se atualizar e matar as saudades dos seus
filhos pequenos ou mesmo reparar alguma conduta. Assim, muitas vezes um
pai que foi rígido vira um avô permissivo. É o caso da pequena Malu:
"meu pai dá pirulito e refrigerante sem nem perguntar se concordamos",
fala Ana Carolina.
O relacionamento é descontraído e, portanto, menos pautado pelas regras.
No entanto, mesmo a falta de limites que de início pode parecer
caótica, com o passar do tempo, adquire um ritmo. Cibele Carvalho,
empresária, 33 anos, mãe de Luana e Milena, de 6 e 11 anos, ficou
assustada pela liberdade total: "Minha mãe levava minhas filhas para
tomar banho de chuva, transformava a sala em floresta e cabana e nem
ligava para comida sujando o carpete. No começo, assustou. Hoje vejo que
é tudo livre, mas monitorado. Do jeito dela, está sempre junto com as
netas, evitando os excessos".
Até aí nenhum perigo: a criança tem total condição de compreender a
diferença dos ambientes e da maneira de ser dos adultos com quem
convive. Ao contrário do que temem as mães, elas lidam bem com
diferentes ritmos e exigências em sua casa e na casa dos avós. O
complicado é quando, com a realidade em que as mães trabalham fora por
longos períodos, os avós são escolhidos como cuidadores da criança
diariamente ou por tempo regular.
Quando vovó é cuidadora
Nestes casos, é fundamental prestar mais atenção à relação, pois, se os
avós estão muito presentes, não podem ser transgressores, devem
contribuir com os limites estabelecidos pelos pais, e controlar a
vontade de modificar a dinâmica, para não confundir a criança entre o
que é regra e o que é exceção. É preciso que avós que assumem o papel de
cuidadores compreendam o funcionamento do sistema da família para
horários e condutas. Se não estiverem alinhadas, pode-se até gerar
tensão e desentendimento entre as duas gerações, afetando a criança, que
precisa de harmonia e segurança. A alternativa para satisfazer os mimos
é combinar um dia dos pequenos com avós, de preferência fora da casa da
família, em que, será permitido flexibilizar e deixar a criança à
vontade para travessuras, tomar sorvete ou dormir tarde.
Conversa entre gerações
Em qualquer dinâmica familiar, é muito importante que haja entre pais e
avós um diálogo sobre a forma escolhida para educar. Quando as mães
conseguem aceitar que na casa da vovó pode ser diferente, passam a ter
mais tranquilidade na sua relação com os filhos, tornando
consequentemente mais fácil a sua própria imposição de limites. Por
outro lado, os avós que conseguem conquistar o carinho dos netos sem
recorrer às prendas e guloseimas, também estabelecem uma relação
saudável e harmônica com todos os membros da família.
Fonte: bebe.com
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