quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Cuidado: tratamento para acne pode prejudicar os olhos

Um novo estudo revela que a isotretinoína, substância muito usada para combater os casos mais graves de espinhas, pode provocar problemas oculares.

O alerta partiu da Universidade de TelAviv, em Israel. Lá, uma equipe de pesquisadores avaliou a ficha médica de quase 15 mil adolescentes tratados no Maccabi Healthcare Service, um dos maiores centros de saúde pública do país. Os pacientes foram divididos em três grupos: aqueles sem acne, os com a face tomada pelas lesões, mas que não tomaram medicamentos orais, e, por fim, os usuários de remédios à base de isotretinoína. O resultado deixou os autores do trabalho de olhos arregalados: 14% dos que ingeriram as cápsulas da substância apresentaram doenças oculares, em especial a conjuntivite, um ano após o início do tratamento. Só para ter ideia, a inflamação ocular se instalou em 9,6% dos jovens que se submeteram a outros tratamentos e em 7% dos participantes com o rosto livre de qualquer espinha. Traduzindo os números, 4% dos indivíduos que engoliam a droga ficaram com a visão ardendo, ante 2% da população em geral. Ou seja, o dobro.

Secura generalizada

Segundo os especialistas israelenses, tudo teria a ver com um efeito colateral bastante conhecido da isotretinoína: ela deixa a pele, os lábios e as mucosas, sobretudo as genitais, extremamente ressecados. Isso porque diminui pra valer a produção de sebo pelo corpo — e não é de estranhar que isso aconteça também nos olhos. "A substância pode alterar o funcionamento de glândulas localizadas nas pálpebras que lubrificam o globo ocular", explica a oftalmologista Meibal Junqueira, do Instituto de Moléstias Oculares, IMO, em São Paulo. Dessa forma, eles ficam secos e correm um risco bem maior de sofrer com alguma infecção, já que essa espécie de gordura também é responsável por fazer uma faxina na área, varrendo para longe vírus e bactérias. "Além disso, a presença da isotretinoína e seus resíduos no filme lacrimal pode ter, por si, um efeito irritante sobre a superfície do olho", acrescenta Meibal.

Os resultados do estudo realizado em Israel não é lá novidade para os médicos, que lidam com esse efeito colateral da isotretinoína frequentemente. "Atendo vários pacientes que a utilizam e se queixam de estarem com os olhos vermelhos, ardendo e com muita sensibilidade à luz, sintomas provocados pela falta de lubrificação", conta o oftalmologista Renato Neves, presidente da Fundação Eye Care, em São Paulo, e membro seguidor da Escola de Medicina de Harvard, nos Estados Unidos. "Se o uso for muito prolongado e não for devidamente acompanhado por um especialista, pode levar à atrofia da glândula lacrimal, fazendo com que o olho fique seco para sempre", alerta Neves. "Todos nós dermatologistas que indicamos esse tipo de medicamento conhecemos bem essa reação adversa", afirma Erica Monteiro, do Setor de Cosmiatria da Universidade Federal de São Paulo.


E diga-se: esse não é o único revés da droga. "A substância pode provocar dores de cabeça, nas articulações e nos músculos", enumera o dermatologista Luiz Mauricio Costa Almeida, de Belo Horizonte, em Minas Gerais. "Também podem ocorrer alterações hepáticas, já que ela é metabolizada pelo fígado, o que faz com que bebidas alcoólicas sejam contraindicadas durante o uso", acrescenta Almeida. "O aumento dos níveis de colesterol e triglicérides é outro risco", complementa a dermatologista Maria Paula Del Nero, de São Paulo. Em bom português, quem tem algum desses problemas deve manter distância.


A mesma recomendação vai para as grávidas ou mulheres que pretendem engravidar depressa, porque a isotretinoína está relacionada a malformações fetais. "Esse risco perdura até 30 dias após o término do tratamento", explica o dermatologista Adilson Costa, chefe do Serviço de Dermatologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, no interior paulista.


Apesar do rol de efeitos colaterais listados até aqui, não há razão para abrir mão da substância. Quem não tem nenhum dos perfis elencados e sofre com acne, principalmente a grave, pode — e deve — se valer dela. "A isotretinoína mudou o jeito de tratar a doença e fez com que as pessoas com o tipo mais severo não ficassem com cicatrizes na pele, como acontecia anteriormente", conta a dermatologista Denise Steiner, professora titular da disciplina de dermatologia da Universidade de Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo. "A sua utilização é válida para os casos mais graves e também aqueles em que as lesões, mesmo que não sejam numerosas, trazem prejuízos sociais", diz Adilson Costa. A médica Erica Monteiro concorda: "A isotretinoína constitui a terapia mais completa e eficaz contra a acne e proporciona resultados excelentes". A especialista continua: "Ela também é indicada para pessoas que não respondem a nenhum outro tipo de princípio ativo". No final das contas, é preciso seguir a avaliação médica para optar pelo método — e, se for o eleito, não deixar de consultar também um oftalmo.

O papel da dieta

Segundo estudos apresentados no último encontro da Academia Americana de Dermatologia, o chocolate tem, sim, culpa no cartório. Indiretamente. O problema estaria na ingestão de alimentos com muito açúcar. É que esse ingrediente estimula a produção de insulina no organismo, e esse hormônio leva a uma piora do quadro. Essa explicação também colocou no banco dos réus os itens de alto índice glicêmico — a batata e o pão branco, por exemplo. Eles fazem com que as taxas de insulina fiquem nas alturas rapidamente. Outros trabalhos relacionaram a complicação da acne ao consumo de leite, mas os pesquisadores não sabem ao certo por que a bebida fomentaria espinhas no rosto.

Alternativas à isotretinoína

Para acne leve e moderada, os médicos podem lançar mão de outros medicamentos. "Existem diversas substâncias capazes de ser usadas em casos assim. E, no que diz respeito ao uso tópico, a combinação de princípios ativos que agem em diferentes aspectos da doença costuma ser mais eficiente", opina Luiz Mauricio Costa Almeida. "O emprego conjunto de peróxido de benzoíla e adapaleno é um bom exemplo, já que tem eficácia comprovada e só precisa ser aplicado uma vez ao dia, facilitando a adesão ao tratamento."

Confira abaixo como se forma a espinha e como funciona o tratamento com isotretinoína

1 - Hormônios estimulam as glândulas sebáceas a produzir muito sebo, que entope os poros e atrai bactérias. Para combatê-las, células de defesa entram em ação.

Como se forma a espinha

1 - Hormônios estimulam as glândulas sebáceas a produzir muito sebo, que entope os poros e atrai bactérias. Para combatê-las, células de defesa entram em ação.

2 - Dessa disputa, sobram bactérias e células de defesa mortas, que, juntas, formam o pus. Ele migra para a superfície da pele, aumentando a espinha.
2 - Dessa disputa, sobram bactérias e células de defesa mortas, que, juntas, formam o pus. Ele migra para a superfície da pele, aumentando a espinha.

3 - A isotretinoína reduz a produção do sebo e o próprio tamanho da glândula. Assim, há menos acúmulo de gordura. Por tabela, diminuem o entupimento do folículo e a colonização bacteriana. Além disso, ela estimula o desprendimento da camada superior da pele, melhorando bastante seu aspecto. 
3 - A isotretinoína reduz a produção do sebo e o próprio tamanho da glândula. Assim, há menos acúmulo de gordura. Por tabela, diminuem o entupimento do folículo e a colonização bacteriana. Além disso, ela estimula o desprendimento da camada superior da pele, melhorando bastante seu aspecto.


Fonte: Revista saude, editora abril

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