Nesse período, eles parecem tão nítidos e reais que
vão fazer você ficar em dúvida se estava dormindo. É o inconsciente
despertando seu amor maternal. Escute o que ele tem a dizer!
Sonhei que entrava no segundo quarto do apartamento onde morava. Ele
estava vazio. Mas, ao abrir o armário, descobri que havia vários
vestidinhos, pendurados aos pares, cada um de uma cor. Na hora, soube
que tinha engravidado de duas meninas. Realmente, após nove meses,
nasceram Julia e Isadora, minhas gêmeas não idênticas.” Quem conta essa
história é a psicoterapeuta paulista Sâmara Jorge, que na época havia
feito uma fertilização in vitro, mas ainda não sabia o resultado.
Premonição?
Sim, mas não no sentido sobrenatural. “Nosso corpo sabe que
engravidamos muito antes de termos cons ciên cia disso e pode mandar o
recado pelo sonho”, explica a psicóloga Marion Rauscher Gallbach, de São
Paulo, autora dos livros Aprendendo com os Sonhos e Sonhos e Gravidez –
Iniciação à Criatividade Feminina (ambos da Paulus). E preparese, pois
sua mente vai usar muito esse canal de comunicação nos próximos meses.
“A gestação é uma fase marcada por mudanças fí sicas e psíquicas. Todas
as emoções são sentidas de maneira muito intensa e se revelam nos
sonhos. Portanto, prestar atenção neles e tentar compreendêlos pode
ajudar a grávida a lidar melhor com os sentimentos e as expectativas e
com a nova relação que está estabelecendo com o feto e consigo mesma”,
afirma Sâmara.
Código pessoal
A menos que você seja expert em interpretação dos sonhos, essa
percepção é intuitiva, mesmo porque o inconsciente fala por símbolos
(veja o quadro “Os campeões de bilheteria”). Mas o que ele comunica
ajuda a perceber medos, dúvidas, ansiedades e desejos em relação à
maternidade. Segundo a psicóloga americana Patricia Garfield, referência
mundial no estudo dos sonhos e autora do livro Women’s Bodies, Women’s
Dreams (“Corpos femininos, sonhos femininos”, ainda não publicado no
Brasil), existe até um padrão nas mensagens oníricas mais frequentes a
cada fase da gravidez.
1° trimestre Evidenciam ansiedade em relação ao nascimento do filho e
despertam a consciência para as mudanças corporais e a formação do
líquido amniótico. Exemplos: sonhos com água, inundações, mar etc.
2° trimestre Revelam interesse pela ligação com o bebê, insegurança com
a aparência e preocupação com o amor do parceiro. Exemplos: sonhos em
que o parceiro se relaciona com outra mulher, o bebê é esquecido em
algum lugar ou não há leite para alimentá-lo.
3° trimestre Giram em torno do desejo de saber mais sobre o bebê – se é
menino ou menina, suas feições. “Os relatos falam de sonhos nos quais
as crianças revelam suas preferências nesses assuntos”, diz Sâmara.
Semanas finais da gestação Trazem à tona medos em relação ao parto e
ansiedade pela chegada da criança e pela responsabilidade de ser mãe.
São comuns sonhos com roubos, assaltos e situações incontroláveis.
Seja qual for o recado, sonhar faz bem à grávida, como concluiu um
grupo de pesquisadores da Universidade de Yamaguchi, no Japão, ao
revisar uma série de estudos sobre o tema. Segundo eles, a maioria das
pesquisas indica que os sonhos fazem a mulher lidar mais facilmente com
as crises emocionais do período e a aceitar o papel de cuidadora de uma
nova vida. “A função deles é ajudar a mente a se equilibrar, trazendo
para o consciente medos e inseguranças ocultos”, ensina Sâmara. Um
exemplo? Se você treme só de pensar em dar o primeiro banho no seu
filho, é provável que se tranquilize caso os sonhos revelem uma imagem
sua em situações de amor e cuidado com o bebê.
Conexão total
Além de ricos no enredo, os sonhos agora tendem a parecer mais
realistas. “Eu nunca me lembrava de um sonho, mas na gravidez eles se
tornaram tão incrivelmente nítidos que nem precisava anotá-los”, conta a
assistente administrativa Milena B. Maia, 37 anos, de São Paulo, mãe de
Vinicius, 1 ano. Não é por acaso. “O inconsciente fica ativado em fases
de transição, mudanças e momentos importantes. E a gravidez é um grande
ciclo transformador. Essa pode ser a razão de os sonhos das gestantes
serem tão marcantes”, explica Sâmara.
A escritora americana Tracie Hotchner, autora do best seller Pregnancy
and Childbirth (“Gravidez e parto”, ainda sem tradução no Brasil),
confirma que, na gravidez, os sonhos se tornam mesmo muito vívidos,
especialmente no último trimestre. “Pense neles como mensagens,
informações secretas sobre si mesma que, de outra forma, não seriam
reveladas”, escreve a autora.
“Até o quarto mês, vivia sonhando com o mar causando inundações
devastadoras, derrubando pontes e alagando ruas. Nessa época, eu chorava
demais e estava superemotiva. Acho que a gravidez me ajudou a recuperar
uma sensibilidade que andava sufocada”, lembra Milena. A maneira
avassaladora como a água se manifesta nos conteúdos oníricos, na forma
de tsunâmis e alagamentos, explica Marion, demonstra a profundidade da
transformação pela qual você está passando. “Esses fenômenos revelam a
força da natureza, algo que não se pode controlar, assim como a grávida
também não controla as mudanças (de apetite, sono, ritmo, formas, humor)
que experimenta”, compara a psicóloga.
O que as especialistas garantem é que, se usar os sonhos para
estabelecer uma sintonia fina com a sua mente, você terá mais
tranquilidade para esperar que a natureza cumpra seu papel. “Há um bebê
em formação, mas também há uma mãe sendo gerada. Esse é um momento
único, e a mulher que percebe a riqueza das suas transformações estará
mais conectada e harmonizada com seus pensamentos e emoções”, afirma
Sâmara.
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