A maioria dos episódios acontece dentro de casa e os
mais comuns são queimaduras, quedas, afogamentos e intoxicações. Evite
essas situações e aprenda a acudir seu filho, se necessário.
1. Qual a fase em que as crianças se machucam mais?
Criança se machuca o tempo todo: caminha, tropeça, corre, cai, bate a
cabeça, mas, de acordo com o pediatra Luiz Carlos Carvalho das Neves,
“elas se machucam mais quando começam a se movimentar sozinhas, ou seja,
no período que aprendem a engatinhar e caminhar”. Isso não quer dizer
que os bebês estejam a salvo. E quedas nessa fase podem significar
ferimentos graves: “Muitas vezes, os adultos acham que o bebê é pequeno
demais para se mexer e o coloca deitado na cama sem uma barreira de
proteção”, completa Neves. O tipo de acidente, no entanto, muda de
acordo com a idade dos pequenos.
2. As crianças podem ser influenciadas por histórias infantis e desenhos animados e achar que podem voar como um super-herói?
“As crianças de até 8 anos costumam fantasiar, imaginar situações e
criar um mundo de faz de conta em suas brincadeiras. Sendo assim, o real
e o imaginário se confundem e, muitas vezes, elas não percebem que
estão em perigo. O ideal é que o pais fiquem atentos e busquem
alternativas de segurança, como telas de proteção e travas. Além disso,
sempre que presenciarem uma situação que envolva risco para a criança,
devem chamá-la para conversar e, com muita paciência, auxiliá-la a
discernir o real do fantasioso, como explicar que o super-homem não voa
de verdade”, orienta a psicóloga Isis Pupo, de São Paulo.
Isso não quer dizer que a criatividade das crianças precisa ser
censurada. “A fantasia, a imaginação e a criatividade são extremamente
importantes e saudáveis para o desenvolvimento psíquico. Os pais não
devem reprimir as fantasias do filho porque é com o brincar que a
criança se expressa, aprende a enfrentar problemas, ensaia e consegue
buscar soluções para o mundo e para angústias reais”, completa Isis.
3. Com que idade as crianças começam a ter noção do perigo?
“Com 1 aninho, o bebê já sabe o que é não. Se os pais explicaram que
não pode colocar o dedo na tomada, por exemplo, ele sabe que não pode,
mas isso não impede que ele tente mesmo assim”, alerta a pediatra Márcia
Sanae Kodaira, de São Paulo. “Por volta dos 4 ou 5 anos, as crianças
começam a ter discernimento do que pode machucar ou não, mas cabe aos
pais orientar”, completa Luiz Carlos Carvalho das Neves, pediatra do
Hospital Beneficência Portuguesa, de São Paulo. Portanto, vale lembrar: o
melhor é sempre prevenir, orientar e não deixar a criança sem
vigilância.
4. Adianta deixar a criança se machucar para aprender o que é perigoso?
“Não, de forma alguma. Não é assim que se ensina. Uma conversa é muito
mais eficaz do que a dor”, enfatiza Roberto Tozze, pediatra do Instituto
da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo.
5. Quais são os acidentes mais comuns com crianças de até 6 anos?
“Em bebês de até 1 ano, as lesões acontecem por: queda (do berço, do
trocador, do carrinho), asfixia (cobertores ou por aspirar alguma peça
pequena de brinquedo) e queimadura (água do banho ou quando a mãe está
tomando café quente com a criança no colo, por exemplo, e derruba a
bebida). Com crianças de 2 a 4 anos, o acidente mais comum é a queda.
Elas engatinham ou andam e, por isso, escadas passam a ser um grande
risco. Outra lesão que poderia ser evitada são os tombos do carrinho de
supermercado. Os pais deixam a criança sentada no carrinho, se viram
para pegar alguma coisa que tenha faltado e, pronto, já foi tempo
suficiente para o pequeno ficar em pé e cair. Normalmente, é uma queda
bem feia porque é alta e o chão do supermercado é bem duro. Já tivemos
caso de traumatismo craniano no pronto-socorro por causa de quedas
assim”, alerta a pediatra Márcia Sanae Kodaira, coordenadora médica da
unidade de emergência e internação do Hospital Santa Catarina, de São
Paulo.
6. Um estudo do Ministério da Saúde mostra que 91% das
queimaduras em crianças ocorrem em casa. Como os pais podem avaliar se a
queimadura pode ser tratada em casa ou requer assistência médica?
Os pais não têm condições de avaliar se a queimadura é de primeiro,
segundo ou terceiro grau. “Se o local ficar muito vermelho ou com
bolhas, ligue para o pediatra para receber orientação”, explica a
pediatra Márcia Sanae Kodaira. Quando o acidente for mais grave, com
panelas e líquidos quentes, por exemplo, leve a criança para o
pronto-socorro.
7. As crianças batem a cabeça com bastante frequência. Isso
pode ser prejudicial? Como saber se é necessário correr para o hospital?
“As crianças batem a cabeça o tempo todo! Se for um trauma leve, os
pais precisam apenas observar. Se ficar um galo, vale colocar uma
compressa fria ou gelo enrolado em uma toalha – não coloque o gelo
diretamente em contato com a pele do pequeno porque queima”, orienta a
pediatra Márcia Sanae Kodaira, coordenadora médica da unidade de
emergência e internação do Hospital Santa Catarina, de São Paulo.
8. Quanto tempo deve durar essa observação? E o que os pais precisam analisar nesse período?
“É importante observar a criança nas primeiras 24 horas. Se ela vomitar
ou ficar com sonolência além do normal, é necessário ligar para o
pediatra. Mas mantenha a calma para observar porque uma criança que
chora demais, às vezes, vomita. E, além disso, depois de chorar muito,
cansa e quer dormir. É necessário distinguir o sono normal do pequeno.
Quando a mãe chama e a criança não responde, ou abre os olhinhos e logo
fecha novamente, pode significar uma lesão. Caso a criança perca a
consciência, deve ser levada imediatamente ao pronto-socorro”, explica a
pediatra Márcia Sanae Kodaira.
9. Com o que uma criança é capaz de se intoxicar?
O envenenamento é a quinta causa de hospitalização por acidentes com
crianças de 1 a 4 anos. Segundo o Ministério da Saúde, em 2007, 5.013
crianças de até 14 anos foram hospitalizadas vítimas de intoxicação.
“Acidentes assim acontecem porque a criança ingere produtos de limpeza e
medicamentos. Por isso, é tão importante manter esses produtos em
armários fechados a chave, impedindo o acesso pelos pequenos. E
lembre-se de manter os produtos de limpeza em sua embalagem original,
não coloque em garrafas de refrigerante, por exemplo, porque tende a
chamar mais a atenção dos pequenos curiosos”, explica Luiz Carlos
Carvalho das Neves, pediatra do Hospital Beneficência Portuguesa, de São
Paulo. Caso, mesmo com as precauções, a criança ingira produtos
perigosos, pegue a embalagem e corra com a criança para o
pronto-socorro. “Não force o vômito porque a substância causará danos ao
descer e ao voltar. E não adianta dar leite nem água. Leve-a para o
hospital”, enfatiza Márcia Sanae Kodaira, pediatra e coordenadora médica
da unidade de emergência e internação do Hospital Santa Catarina, de
São Paulo.
PREVENÇÃO: elimine as armadilhas da sua casa
No quarto
O quarto do bebê deve ser um lugar absolutamente seguro, sem nada que
possa machucar. Lembre-se de diminuir a altura do berço conforme a
criança cresce – em geral eles têm três níveis e, quanto maior a
criança, mais fundo deve ser o berço para que ela não pule ou caia.
No banheiro
As crianças são muito rápidas. Alguns segundos de distração são o
suficiente para causar um acidente que pode ser fatal. Por isso, o
melhor ainda é prevenir. Antes de começar a trocar o bebê ou dar banho,
tenha tudo ao alcance das mãos. Nunca deixe a criança sozinha em cima de
trocadores e banheiras, nem por um segundo. E, quando ela já for grande
o suficiente para tomar banho de chuveiro, coloque um tapete de
borracha próprio para boxes. Os azulejos molhados se tornam extremamente
escorregadios e a criança pequena, muitas vezes, não tem coordenação
nem equilíbrio apurados para evitar a queda.
Nas tomadas elétricas
Coloque proteção em todas as tomadas. São fáceis de encontrar e evitam
graves acidentes. As crianças não têm discernimento para saber o que
machuca, portanto você pode dizer para ela não colocar o dedinho na
tomada, mas isso não vai impedir que ela tente mesmo assim.
Na cozinha
A pediatra Deborah Malta, coordenadora do Departamento de Análise de
Situação de Saúde do Ministério, salienta que “entre as principais
causas de queimaduras em crianças estão as provocadas por contato com
substâncias quentes (líquidos, alimentos e água quente). Em seguida, as
queimaduras causadas por fogo ou chama e objetos quentes”. Portanto,
mantenha a criança longe da cozinha – vale usar grades para impedir a
passagem – e, caso isso não seja possível, não beba substâncias quentes
com bebês no colo, não deixe o pequeno chegar perto do forno e mantenha o
cabo das panelas virado para dentro do fogão para impedir que mãozinhas
curiosas puxem recipientes ferventes.
Na lavanderia
Produtos de limpeza devem ser mantidos em armários trancados. Além
disso, mantenha-os em suas embalagens originais. Colocá-los em garrafas
de refrigerante, por exemplo, pode aumentar a curiosidade da criança.
Na piscina
Mantenha a piscina inacessível para as crianças. Coloque grades de
proteção e oriente o pequeno sobre o perigo. Lembre-se de que as capas
sobre a água não impedem que a criança caia e se afogue.
Janelas e escadas
Use telas de proteção em todas as janelas. Mesmo as crianças bem
pequenas são capazes de empurrar uma cadeira para perto da janela e
cair. Se a sua casa tiver escadas, invista em grades de proteção porque
uma queda pode ser grave.
Medicamentos
Nunca se refira a um medicamento como doce, pois isso pode levar a
criança a pensar que não é perigoso ou que é agradável de comer. “Como
as crianças tendem a imitar os adultos, evite tomá-los na frente delas”,
alerta a ONG Criança Segura.
EMERGÊNCIA: o que fazer em caso de acidentes 1. Se o bebê colocar o dedo na tomada
“Se ele estiver só chorando, não aconteceu nada grave. Mas, se
desmaiar, leve-o para o hospital. É muito importante prevenir acidentes
assim porque um choque pode causar uma parada cardíaca em um bebê”,
alerta a pediatra Márcia Sanae Kodaira, coordenadora médica da unidade
de emergência e internação do Hospital Santa Catarina, de São Paulo.
2. Se a criança ingerir produtos de limpeza
“Pegue a criança e a embalagem do produto e corra para o
pronto-socorro. No caminho, ligue para o pediatra ou para o centro de
controle de intoxicações. Não adianta dar leite nem água e nunca force o
vômito, pois o produto queima na ida e na volta”, esclarece a pediatra
Márcia Sanae Kodaira.
3. Se a criança puxar uma panela e tiver queimaduras graves
A pediatra Márcia Sanae Kodaira, coordenadora médica da unidade de
emergência e internação do Hospital Santa Catarina, de São Paulo,
explica: “Coloque a área queimada na água fria e leve a criança para o
hospital. Não passe nenhum produto, como pasta de dente, pois eles
atrapalham o atendimento quando a criança chega ao pronto-socorro”.
4. Se a criança ingerir medicamentos
“Mantenha a calma e veja o que ela ingeriu e em qual quantidade. Pegue a
embalagem do produto e vá com a criança para o hospital. Não force o
vômito porque, dependendo do que foi ingerido, o pequeno pode perder a
consciência ou ficar sonolento e aspirar o vômito”, ensina Roberto
Tozze, pediatra do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São
Paulo.
5. Se o bebê comer o coco do gato ou o vômito do cachorro
“Isso normalmente acontece com bichos que são da casa, ou seja, estão
vacinados e tomam vermífugo. Observe se a criança tem diarreia ou vomita
e avise o pediatra. Não é necessário forçar o vômito. Esses casos são
mais nojentos do que perigosos”, ensina a pediatra Márcia Sanae Kodaira,
coordenadora médica da unidade de emergência e internação do Hospital
Santa Catarina, de São Paulo.
6. Quando a criança bate a cabeça
Avalie se foi só mais uma pancada ou se foi um trauma sério. Se a
criança vomitar ou perder a consciência, corra para o pronto-socorro.
7. Se a criança for mordida pelo cachorro de estimação
“A boca dos animais é cheia de bactérias, por isso leve o pequeno para o
pronto-socorro. Mesmo que não precise suturar, é importante limpar o
local e receber a orientação médica”, indica a pediatra Márcia Sanae
Kodaira, coordenadora médica da unidade de emergência e internação do
Hospital Santa Catarina, de São Paulo.
8. Se a criança cair e quebrar um dente
“Faça uma compressa com algodão ou gase para estancar o sangue e
procure um especialista. Mesmo os dentes de leite precisam de atenção e
reparos, embora alguns pais pensem que podem simplesmente deixar para
lá”, aconselha Roberto Tozze, pediatra do Instituto da Criança do
Hospital das Clínicas de São Paulo.
9. Se a criança cair na piscina e beber muita água
“Se a criança caiu, se assustou e saiu chorando, está tudo bem. Se ela
bebeu um pouco de água, é só observar em casa mesmo, fazer ela se
acalmar, ver se está respirando direitinho. Lógico que, com o susto, a
criança fica ofegante, por isso tenha calma. Se ela bebeu muita água ou
perdeu a consciência, é necessário fazer a respiração boca a boca e
começar as manobras de ressuscitação”, ensina a pediatra Márcia Sanae
Kodaira.
DICA: Tenha na porta da geladeira os telefones para casos
de emergência, como contato do pediatra, do hospital mais próximo
e do Centro de Controle de Intoxicações de sua cidade.
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