Dor, fome, refluxo e outros problemas...
Especialistas esclarecem os motivos pelos quais o bebê cai no choro na
hora da amamentação.
Amamentar deve ser um momento único entre mãe e filho – calmo, repleto
de carinhos e trocas de olhares. Eis que todo esse clima de harmonia é
quebrado quando o bebê desata a chorar compulsivamente. A mãe, seja ela
de primeira viagem ou não, fica aflita por não saber exatamente a causa
de tanto sofrimento e o que era para ser algo extremamente prazeroso
termina com a dupla nervosa e muito barulho.
De acordo com o pediatra e gastroenterologista infantil Joaquim Carlos
Soares D’Azevedo, “o choro, sobretudo na hora da mamada, é a maneira de o
bebê dizer que algo não está como ele quer. Nem sempre é grave, mas
precisa ser avaliado”. Nesses casos, os pais devem observar e pedir a
ajuda do pediatra toda vez que se sentirem inseguros. “Ele é o
profissional mais indicado para tirar as dúvidas”, diz Eduardo Carlos
Tavares, neonatologista e professor adjunto do departamento de pediatria
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Para ajudá-la nessa
hora, listamos os principais motivos que levam a criança a abrir o
berreiro no instante da amamentação.
1. Fome
É a grande campeã entre as causas e, geralmente, acontece devido a
outro fator associado, como dor ou mamada incorreta. A criança se irrita
por não conseguir mamar e chora pela frustração e pela fome
propriamente dita. “Quanto mais tensa a mãe ficar, pior. Não adianta
querer que ele mame se estiver chorando. O ideal é acalmá-lo primeiro e
depois oferecer o peito”, aconselha José Claudionor da Silva Souza,
neonatologista da maternidade Pro Matre Paulista.
2. Cólica
Esse é o bicho-papão dos três primeiros meses. Como a boca é uma imensa
fonte de prazer para o bebê dessa idade, ele quer o peito para se
saciar e também se acalmar. Muitas vezes, no entanto, quando o leite cai
no estômago, vem mais dor. Causada por uma imaturidade do sistema
nervoso e do digestivo, a cólica acalma quando o pequeno cresce um
pouquinho. Enquanto isso, para amenizar os sintomas, os pais podem fazer
massagens, colocar bolsa de água quente e, se o médico indicar,
administrar remédios que aliviam as dores causadas pelos gases.
3. Dor
Uma das mais comuns é a dor de ouvido. O pediatra deverá examinar e
instruir os pais sobre a necessidade de usar medicamentos. Se não for
uma infecção grave, aqueça com ferro de passar roupa uma fraldinha de
pano e coloque sobre a orelha da criança. Além disso, evite que gotas de
água entrem no ouvido do bebê na hora do banho e nunca use o cotonete
para retirar a cera, pois ele pode empurrá-la para o fundo e até
perfurar o tímpano.
4. Má pega ou mau posicionamento na mamada
Se a criança não está abocanhando a aréola do seio de maneira correta, a
mamada não é eficaz. Provavelmente, ele não suga o que gostaria.
“Corrija a postura e encoste a barriga dele com a sua. De barriga para
cima, ele ficará cansado muito rápido e estará numa posição
desconfortável”, ensina Priscila Cavalcanti, especialista em
amamentação. “Quem mama de maneira inadequada, normalmente, não dorme
bem nem ganha peso”, constata José Claudionor da Silva Souza. Caso
esteja insegura, procure grupos de apoio ou fale com um especialista em
aleitamento materno.
5. Mama muito cheia e dura
Impossível mamar assim, por mais esforço que se faça. O segredo, nesse
caso, é ordenhar o excesso de leite e fazer massagens para ajudar o
pequeno. “Lembre-se de que o bebê tem a boca pequena. Com a mama mais
vazia, fica bem mais fácil”, diz Priscila. Segundo o neonatologista da
maternidade Pro Matre Paulista, é muito comum as pessoas falarem que o
leite empedrou. A mãe pode sentir dores e até apresentar febre. Conchas
de silicone amenizam o desconforto.
6. Reflexo de sugar fraco
Há crianças que se sentem mais cansadas do que outras após o parto e,
apesar da fome, não conseguem mamar direito. “Embora muita gente ache o
contrário, mamar não é algo intuitivo. Mãe e filho precisam aprender e
se conhecer para detectar as preferências. A amamentação tem de ser
aprendida e estimulada, não dependendo somente da habilidade da mulher e
da sucção do pequeno, mas também do que essa mãe conhece sobre o ato e
do seu desejo de amamentar”, explica Souza. Tenha paciência e persista!
7. Problemas no bico do seio
Entram nessa lista as fissuras nos mamilos e os chamados bicos
invertidos ou planos. O ideal é, ainda na gestação, preparar o bico do
seio, evitando passar cremes na região da aréola e expondo a região ao
Sol alguns minutos por dia. Se o problema já se instalou, existem
pomadas à base de lanolina, muito usadas para cicatrizar as feridas. No
caso dos mamilos invertidos, massagens e puxões feitos de maneira
correta podem ajudar. Além disso, para ambos os casos, há conchas e
protetores de seio de silicone. Convém ainda consultar um médico ou
especialista em amamentação.
8. Refluxo
O problema dá as caras quando a mamada é acompanhada de choro,
irritação, arrotos – muitas vezes tardios – e regurgitação. A causa é
uma imaturidade do esfíncter, o músculo que liga o estômago ao esôfago.
“O bebê sente ardor e chora porque o leite volta do esôfago com um gosto
ácido”, explica D’Azevedo, gastroenterologista infantil. “Há casos de
crianças que nem conseguem mamar e os pais pensam que é cólica ou dor de
ouvido”, completa ele. Para amenizá-lo, o médico – a única pessoa com
capacidade para fazer o diagnóstico – costuma recomendar medicamentos,
mudanças posturais (como inclinar a cabeceira do berço) e também na
dieta – que deve ser fracionada – e a adoção de leites espessados quando
o paciente não mama mais no peito. “A doença do refluxo é assunto
sério, pois pode lesionar a parede do estômago e causar complicações,
como bronquites, infecções de ouvido, chiado no peito, perda de peso e
pneumonia”, diz o especialista.
Se o seu filho parece muito inquieto para mamar e irritado após se
alimentar, comente com o pediatra e discuta a possibilidade de ele ter a
doença do refluxo. “Mesmo que os sintomas desapareçam, só o pediatra
sabe a hora certa de cortar a medicação”, frisa D’Azevedo.
9. Mãe tensa ou estressada
Isso acontece quando a relação entre mãe e filho ainda não está
totalmente estabelecida. Natural, afinal de contas, a família acaba de
ganhar mais um integrante e os pais (sobretudo a mãe) podem se sentir
inseguros ou ansiosos. “O bebê capta esse tipo de emoção e se expressa
por meio do choro. A ordem é manter a calma”, decreta o pediatra José
Claudionor da Silva Souza. “Mãe estressada tem a inibição do hormônio
ocitocina, responsável pela ejeção do leite”, alerta Priscila. “Para
mandar a tensão embora, vale tudo: ajuda de marido, família ou amigos,
massagem relaxante, repouso, participação em um grupo de apoio à
amamentação e, claro, uma boa conversa com o pediatra”, lista Tavares.
10. Insuficiência ou diminuição da produção de leite
Também chamada de hipogalactia, acontece quando a produção de leite não
atende às necessidades da criança. “A insuficiência é pouco comum,
embora as mães, por insegurança, achem que acontece sempre”, frisa o
professor da UFMG. Já a diminuição pode acontecer por ansiedade ou
quando a licença-maternidade termina. Ele aconselha a mamãe a procurar o
obstetra, que irá avaliar a quantidade de leite que está sendo
produzida. Há casos em que são usados medicamentos para corrigir o
fluxo. Paralelamente, é indicado esvaziar sempre as mamas, fazer
massagens e compressas de água morna no local, descansar e, sobretudo,
deixar o bebê sugar, pois é ele quem irá estimular a produção.
11. Cheiro ou alimentação da mãe
Não se preocupe, pois não é nada pessoal. Seu filho não está rejeitando
você. Ele pode estar apenas estranhando o cheiro do perfume ou
desodorante que você passou a usar. Existem casos em que a recusa se dá
por causa de mudanças na dieta: alimentos muito condimentados, por
exemplo, passam o sabor para o leite. Durante essa fase, opte por
desodorantes sem cheiro ou suaves e fique atenta ao que você come.
12. Nova gravidez
Há quem garanta ser o sexto sentido informando que vem irmãozinho por
aí. A medicina, entretanto, explica que existe uma alteração no gosto do
leite, por questões hormonais, quando a mamãe está grávida de novo.
Portanto, não estranhe se ele recusar o alimento por um período. A
situação tende a voltar ao normal em pouco tempo.
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