Ela é o foco das atenções durante os nove meses de
gravidez. Pudera! Suas incumbências são, nada mais, nada menos do que
abrigar, nutrir e oxigenar o feto ao longo de todo o processo de
desenvolvimento.
Antes mesmo de a menstruação atrasar, anunciando que a cegonha está a
caminho, os preparativos dos aposentos do bebê já estão em pleno vapor
para acolhê-lo. Por volta da quinta semana após a concepção, “células do
trofoblasto—uma estrutura anexa ao embrião—começam a se infiltrar na
parede do endométrio, o tecido que reveste o útero”, descreve o
ginecologista e obstetra Luiz Fernando Leite, do Hospital e Maternidade
Santa Joana, em São Paulo. Deste processo se originará a placenta,
estabelecendo um sistema de vasos sanguíneos que conectam a mulher a seu
bebê. Mas, é somente quando a barriga completa quatro meses que a
estrutura placentária atinge seu pleno desenvolvimento. “É ela que
possibilita ao feto receber sangue oxigenado e com todos os nutrientes
de que ele necessita”, explica o obstetra Eduardo de Souza, do Hospital e
Maternidade São Luiz, em São Paulo.
Essa transferência de mãe pra filho ocorre por meio do cordão
umbilical. “Ele possui duas artérias que trazem o fluxo sanguíneo do
feto para a placenta e uma veia que retorna a ele com o sangue
oxigenado, já que, durante a gestação, os pulmões não entram em cena”,
ensina o médico. Em outras palavras, as duas principais funções vitais
do bebê—a nutricional e a respiratória—são de inteira responsabilidade
da placenta. E suas atribuições não param por aí. Ela também está
envolvida na secreção de diversos hormônios, como a gonadotrofina
coriônica, cujo principal papel é zelar pela manutenção da gravidez,
inibindo a ovulação. “E também fabrica o lactogênio, que induz a
produção de leite materno, e a progesterona, que prepara todo o corpo da
mulher para carregar o bebê”, explica Luiz Fernando Leite.
Cabe ainda, à placenta, uma outra missão de suma importância: a de
formar uma barreira contra agentes tóxicos do organismo da mãe e que são
potencialmente perigosos para o pequeno. Vale alertar, entretanto, que
substâncias como as do álcool e do cigarro, além de alguns vírus e
bactérias, são capazes de transpor o obstáculo e afetar a criança. Leia
mais sobre os malefícios do cigarro e do álcool durante a gravidez.
“Quando a placenta não dá conta de cumprir suas tarefas, devido à
alguma deficiência, o crescimento fetal é prejudicado e, em casos
extremos, isso pode impedir que a criança sobreviva”, alerta Souza. Dois
momentos são cruciais para garantir um refúgio seguro ao bebê. Eles são
marcados por fenômenos chamados de invasões trofoblásticas, que ocorrem
no primeiro e no segundo trimestres de gestação. Durante sua formação,
as ramificações da placenta penetram na parede uterina, buscando os
vasos sanguíneos para se ligarem a eles, a fim de criar uma perfeita
conexão com o futuro membro da família. “Caso contrário, a gravidez pode
cursar com pré-eclâmpsia, um aumento perigoso na pressão arterial;
restrição do crescimento fetal; e até descolamento prematuro da
placenta”, avisa Eduardo de Souza. (veja mais detalhes abaixo).
Grávidas com idade avançada, hipertensas, tabagistas, usuárias de
drogas e portadoras de distúrbios de circulação, como nos casos de
algumas doenças reumatológicas, são mais suscetíveis a intercorrências
placentárias. As futuras mamães de gêmeos também integram o grupo em que
o risco é aumentado.
Uma conduta para cada imprevisto
Entenda no que consiste cada problema que acomete a placenta e as estratégias médicas para atenuar seu impacto
Placenta prévia: o útero tem o formato de uma pera em
posição invertida. A placenta recebe esta classificação quando sua
implantação é baixa, próxima ao cólo uterino ou, seguindo o raciocínio,
ao “cabinho da pera”. Nem sempre isso representa motivo de grandes
preocupações, mas há risco de sangramentos e de parto prematuro. Diante
desse quadro, geralmente é necessário que a mulher seja submetida a uma
cesárea. Repouso físico, sexual e emocional são as recomendações médicas
para prevenir complicações.
Descolamento prematuro: trata-se de um evento mais
grave, que pode acontecer no terceiro trimestre gestacional. Ele é mais
frequente em mulheres hipertensas e provoca hemorragia na mãe, além de
representar risco de morte ao feto. Nesse caso, o parto deve ser
imediato. Mas, não confunda a situação com descolamento ovular—quando o
saco gestacional que envolve o embrião se desprende. Isso costuma
ocorrer no primeiro trimestre e pode promover um abortamento.
Insuficiência placentária: a placenta se desenvolve e
amadurece ao longo da gestação. O exame ultrassonográfico permite
classificá-la em graus de maturidade. Caso esteja envelhecendo mais
rápido do que o habitual, a vitalidade do feto precisa ser vigiada, já
que os aportes de nutrientes e oxigênio podem se tornar insuficientes. O
exame de dopplerfluxometria é um complemento ao ultrassom, em que se
estuda o fluxo sanguíneo dos diversos vasos maternos e fetais. Outros
exames que ajudam muito são a chamada cardiotocografia e o perfil
biofísico fetal. Todos eles analisam parâmetros que traduzem as
condições da função placentária, da oxigenação e da nutrição do bebê.
Quando carências significativas são detectadas, pode ser necessário
administrar medicamentos para acelerar o amadurecimento pulmonar da
criança e, então, antecipar o parto.
Acretismo placentário: é quando a placenta penetra
demasiadamente no útero. Após o nascimento, percebe-se que ela não
desgruda da parede uterina, ocasionando grave hemorragia. Há diversos
fatores que predispõem a este quadro, mas ele é muito mais comum quando a
mulher é submetida a várias cesáreas de repetição. Nesse, caso, pode
ser necessário realizar uma histerectomia, ou seja, a retirada do útero.
Dequitação incompleta: como diz o próprio nome, é
quando o organismo da gestante não elimina completamente a placenta,
depois de dar à luz. Daí que os especialistas precisam realizar uma
limpeza manual do tecido remanescente.
E o líquido amniótico?
É o meio aquoso em que o bebê fica embebido, durante a gestação. “A
diurese do feto é um de seus principais componentes”, esclarece Luiz
Fernando Leite. Em português claro, ele é formado a partir da urina
dele. “O líquido amniótico é muito importante para a movimentação do
feto, para a proteção de sua pele e para o desenvolvimento de seus
pulmões”, complementa Souza. Além disso, a substância evita compressões
no cordão umbilical, o que acarretaria sofrimento fetal. Uma diminuição
atípica no volume de líquido amniótico pode acender um sinal amarelo
para problemas renais, além de comprometer o amadurecimento pulmonar.
“Durante o pré-natal, no exame do abdômen, o obstetra consegue avaliar
bem a quantidade de líquido, porém, a ultrassonografia é outro recurso
fundamental para o acompanhamento de seus níveis.
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