quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Ovário policístico: reconheça e trate

Hormônios em crise
Tratar os ovários policísticos ainda na adolescência pode prevenir futuras encrencas cardiovasculares.


As duas fábricas de óvulos estão com problemas na linha de montagem. E a notícia repercute no corpo inteiro. O distúrbio atende pelo nome de ovários policísticos (SOP), afeta entre 10% e 15% das mulheres e se manifesta na adolescência. "Ele não tem uma causa específica, mas está associado ao aumento desproporcional da produção de androgênio, o hormônio masculino", conta o especialista em reprodução humana Jorge Haddad Filho, coordenador do Programa de Reprodução Assistida da Universidade Federal de São Paulo.
"Questionar se essa alta é o motivo ou a conseqüência do problema soa como a pergunta sobre quem veio primeiro o ovo ou a galinha", completa. Pois é, ainda há muito o que descobrir a respeito da SOP. Mas a ciência desconfia que alterações genéticas estejam por trás dela. Uma delas seria responsável pela chamada resistência à insulina, hormônio que controla os níveis de açúcar no sangue. Esse distúrbio, por sua vez, levaria a síndrome metabólica e um pacote de encrencas, como obesidade, gordura abdominal, colesterol e triglicérides alterados, pressão alta e diabete, capazes de levar a doenças cardiovasculares.
"Queremos saber quais tratamentos ajudariam a evitar tanta complicação", diz a ginecologista Carolina Sales Vieira, uma das coordenadoras de um estudo do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto, que, durante um ano, vai avaliar 88 portadoras da SOP. Para o diagnóstico dessa síndrome os especialistas recorrem a um exame de ultra-som, além de levar em conta sintomas como irregularidade do ciclo menstrual e aparecimento de características masculinas.
"Só dá para afirmar que há SOP depois de dois anos da primeira menstruação, porque antes disso as conexões entre ovários e cérebro ainda não estão estabilizadas", explica Carolina. Nem todas as mulheres com ovários policísticos apresentam resistência à insulina, distúrbio que pode desencadear o diabete tipo 2 e levar ao entupimento de vasos sangüíneos.


"No entanto, entre 30% e 50% das portadoras de SOP magras têm essa disfunção hormonal", informa Carolina Sales Vieira. Já as estimativas em relação às obesas sobem para algo entre 70% e 90%. Não à toa, a obesidade é um dos fatores diretamente ligados aos ovários policísticos. E, como a alta de androgênio estimula o apetite, a perda de peso fica ainda mais difícil. "A SOP também contribui para a aterosclerose, o bloqueio da passagem de sangue pelas artérias provocado por placas de gordura", lembra o ginecologista Rui Ferriani, professor da USP de Ribeirão Preto, que também participa do estudo.
Felizmente, todos esses problemas dos pêlos em locais indevidos às complicações descritas acima, passando pela infertilidade podem ser evitados ou combatidos. "Quando a paciente é acompanhada pelo médico e faz o tratamento correto, pode perfeitamente engravidar e ficar longe de riscos vinculados à síndrome metabólica e ao diabete", afirma a hebiatra Andrea Hercowitz, professora da Faculdade de Medicina do ABC, na Grande São Paulo.
"Em caso de resistência à insulina, receitamos medicamentos como a metformina, que equilibra a síntese desse hormônio e ajuda a abaixar os níveis de androgênio", acrescenta Jorge Haddad Filho. Só a droga, porém, não basta. Mudar os (maus) hábitos é fundamental. "A jovem com ovários policísticos deve praticar atividades físicas regularmente e ter uma dieta equilibrada, o que também significa reduzir o açúcar e a gordura", orienta Andrea. A SOP em si não tem cura, mas o tratamento, aliado à adoção de um estilo de vida saudável, afasta as encrencas.
Nunca é demais lembrar que as desordens típicas da síndrome às vezes são confundidas com as alterações comuns nos primeiros meses após a menarca a primeira menstruação tais como acne e ciclo irregular. Daí a importância de detectar o problema precocemente. Tirar a prova dos nove logo cedo é o caminho certeiro para garantir que o corpo continue funcionando a todo vapor pela vida afora.

Fonte: Revista saúde, editora abril

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