Fique por dentro da cirurgia plástica que corrige o
problema, da técnica que é uma alternativa à operação e saiba lidar com o
assunto, quando se trata do seu filho.
As orelhinhas proeminentes são motivos de preocupação para muitos pais.
Não é para menos. “Elas atraem uma atenção negativa para a criança, ao
gerar brincadeiras e olhares maldosos”, explica o psicoterapeuta Walter
Poltronieri, da Universidade de São Paulo (USP).
O problema pode ser resolvido com uma cirurgia plástica chamada
otoplastia, mas é preciso calma para decidir se o procedimento deve, de
fato, ser realizado e para definir o momento mais adequado. A idade é
um dos fatores a serem considerados. “A criança pode ser submetida à
correção a partir dos seis anos porque, após essa idade, o crescimento
da orelha já não será tão significativo”, conta o cirurgião plástico
Sérgio Almeida, do Hospital e Maternidade Santa Joana, na capital
paulista.
O pré-requisito mais importante, porém, é a vontade da criança. O
desejo dos pais não é suficiente. “Muitas vezes, quem está incomodado
não é o pequeno, mas sim a família, que não aceita a diferença do
filho”, conta a psicóloga Maristela Boldo Favaron, do Hospital e
Maternidade São Cristovão, em São Paulo. Há casos em que as crianças se
sentem bem com a sua aparência e não se abalam com os comentários sobre
as orelhas. “Isso geralmente acontece quando a personalidade é tão
marcante que o baixinho não se deixa afetar pela ditadura da aparência.
São exemplos que os pais deveriam aprender com o filhos”, opina
Poltronieri.
A iniciativa dos pequenos de passar pela cirurgia também é essencial
para que o procedimento seja bem-sucedido. Por isso, é unanimidade entre
os cirurgiões plásticos que a otoplastia só deve ser realizada sob esta
condição. “Assim, a criança vai estar motivada e, consequentemente, irá
colaborar com os médicos”, explica o cirurgião plástico Roberto Menezes
Zatz, do Hospital e Maternidade São Luiz, em São Paulo. “No
pós-operatório, por exemplo, ela certamente vai cuidar das orelhas e
evitar brincadeiras que possam causar traumas”, cita o médico.
Antes da cirurgia
Quando estão insatisfeitas com a aparência, as crianças não
necessariamente falam sobre o assunto, mas manifestam algumas pistas não
verbais, às quais os pais devem ficar atentos. “Ela fica retraída, não
quer ir para a escola nem brincar. Sem contar que procura esconder as
orelhas, usando o cabelo comprido ou um boné”, descreve Poltronieri.
Uma vez que é tomada a decisão pela otoplastia, os pais podem
esclarecer o procedimento, de forma lúdica, ao filho. “A explicação
pode ser feita com a ajuda de bonecos, mostrando no brinquedo o que será
feito. O importante é que os pais transmitam tranquilidade”, conta
Favaron.
Antes da otoplastia, é importante que a criança se consulte com o
cirurgião plástico e com o anestesista. Estes profissionais irão
solicitar, com base no histórico do paciente, os exames pré-operatórios
necessários. “A probabilidade de algo sair errado diminuem quando são
feitas avaliações com bons profissionais”, ressalta a anestesista Monica
Siaulys, do Hospital e Maternidade Santa Joana.
A anestesia
A sedação aplicada é a geral, devido à pouca idade dos pacientes. “O
adulto suporta melhor alguns desconfortos do procedimento, já a criança
pode ficar inquieta. Além disso, para fazer a anestesia local,
precisamos puncionar uma veia e há crianças que sentem medo”, justifica o
anestesista Enis Donizetti Silva, diretor científico da Sociedade
Brasileira de Anestesiologia.
No pré-operatório, o recomendável é que o paciente fique entre seis e
oito horas em jejum de alimentos sólidos e duas horas sem beber água. Os
especialistas defendem que os riscos de uma anestesia geral diminuíram
muito em relação às décadas passadas. “Os métodos aplicados, os
equipamentos e materiais utilizados estão mais seguros, atualmente, as
complicações de causa anestésica são raras”, garante o anestesista
Arthur de Campos Vieira Abib, do Hospital e Maternidade São Luiz. O
tempo de duração do efeito anestésico é apenas um pouco maior do que o
da cirurgia.
Entenda a otoplastia
A otoplastia tem como objetivo restabelecer a anatomia das orelhas e o
posicionamento delas em relação ao crânio. São feitas incisões somente
na face posterior das orelhas e, por isso, o paciente não fica com
cicatrizes aparentes. “Realizamos um corte vertical comprido e retiramos
um pedacinho responsável pela aparência de abano. Além disso,
esculpimos a área restante, dando pontos”, conta o cirurgião plástico
Felipe Lehmann Coutinho, diretor da Sociedade Brasileira de Cirurgia
Plástica (Regional São Paulo).
A otoplastia pode durar entre uma e duas horas. Como se trata de um
procedimento estético, não é coberto pelo plano de saúde e o custo varia
entre 3 e 12 mil reais. De acordo com uma pesquisa do Datafolha,
anualmente são feitas 9183 cirurgias plásticas estéticas em crianças de
até 12 anos.
Os riscos da operação são mínimos, sendo que o principal deles é a
recidiva do abano. “Isto pode ocorrer em 30% dos casos, pois os pontos
são dados na cartilagem e, às vezes, se soltam. Consequentemente, a
cirurgia precisa ser refeita”, afirma Coutinho. A cautela no
pós-operatório previne esse inconveniente.
O pós-operatório
O paciente costuma deixar o hospital no mesmo dia da otoplastia. É
feito um curativo compressivo na cabeça, com aspecto similar ao de um
capacete. Nos primeiros dias, a criança pode sentir dor, mas ela é
contornável com os analgésicos habituais.
É importante que o pequeno evite a exposição ao sol por pelo menos um
mês, já que o calor intensifica o inchaço. Durante dois meses, ele não
deve praticar esportes que podem causar traumas nas orelhas, como o
futebol.
Tratamento sem intervenção cirúrgica
Uma técnica desenvolvida no Japão oferece a possibilidade de correção
das orelhas de abano, dispensando a intervenção cirúrgica. Mas, ainda
não há comprovação científica de que o método funcione.
Ele consiste em fazer uma modelagem das orelhas do bebê. “Usamos uma
cola especial que fixa a orelha à mastoide-- a região localizada na
parte posterior do osso temporal. Em seguida, são feitos moldes com
algodão e pó de gesso que fazem toda a modelagem das dobras da orelha.
Tudo é fixado com uma bandagem de microporos”, explica o médico
Alexandre Piassi Passos, do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.
O bebê deve ficar com os curativos, que são trocados quando necessário,
por um período de dois meses. O cirurgião plástico Alexandre Passos
afirma que desde 2007 já realizou 115 procedimentos deste tipo e que, em
85% deles, obteve a reversão total da orelha de abano. Em cerca de 15%,
a correção foi parcial, de acordo com ele.
A técnica é indicada para bebês até seis meses de vida. “A sensação que
temos é que, nessa fase da vida, a cartilagem é mais mole, logo pode
ser modelada com maior facilidade. Mas, trata-se apenas de uma
hipótese”, diz Passos.
Segundo o médico, quanto mais jovem for o bebê, maiores as chances de o
procedimento ser bem- sucedido. A técnica pode ser aplicada em
recém-nascidos de 20 dias. Outro ponto que desencoraja o tratamento em
crianças mais velhas é que elas desenvolvem a capacidade de tirar os
curativos.
De orelhinha em pé
Quando notou que as orelhas de seu filho Gabriel começaram ficar
proeminentes, a dermatologista Luciana Leal Chichierchio decidiu pela
técnica não cirúrgica, quando seu bebê tinha quatro meses. “Tenho um
primo com orelha de abano e vi ele sofrendo todo o tipo de humilhação e
não queria isso para o Gabriel. Uma amiga minha passou a ter dores de
cabeça após a otoplastia, então me preocupo com as sequelas de uma
intervenção cirúrgica”, argumenta Luciana.
Apesar de não causar dor na criança, Luciana e Gabriel tiveram que
lidar com algumas dificuldades. “O curativo abafa um pouco a orelha e
estava muito calor na época em que fizemos o tratamento. Eu também
achava que o abano já tinha diminuído bastante, então tirei os curativos
duas semanas antes do previsto”, conta Luciana. Do ponto de vista da
mãe, houve uma melhora de 50% nas orelhas de Gabriel.
Este procedimento possui uma técnica específica. O uso de adesivos,
faixas, entre outros métodos caseiros não diminuem as orelhas de abano e
não são recomendados pelos cirurgiões plásticos.
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