Cumprir o calendário de imunização não é suficiente
para garantir a proteção do pequeno. Confira algumas precauções cruciais
para assegurar a eficácia da vacina e evitar efeitos indesejados.
1. A pontualidade faz diferença
Tudo bem atrasar ou adiantar um pouco uma aplicação, mas evite. O
calendário é calculado para proporcionar proteção máxima ao seu bebê.
“Atrasos, inclusive nos reforços, deixam o pequeno desprotegido.
Antecipar a aplicação também pode ser ineficiente se o sistema imune não
estiver maduro”, avisa o pediatra Renato Kfouri, presidente da
Sociedade Brasileira de Imunizações. Há casos, porém, como o da
catapora, comum na primavera, em que vale adiantar a vacina se o
pediatra autorizar.
2. Motivo para adiar
Resfriados, alergias e pequenas indisposições não são motivo para
postergar a imunização. Mas o pequeno não deve ser vacinado se tiver
febre ou algum problema mais grave, como pneumonia, infecção urinária e
quadros virais que provoquem manchas vermelhas na pele. “A vacinação
também é contraindicada se a criança estiver usando medicamentos que
baixam a imunidade, como corticoides”, alerta Kfouri. Na dúvida,
consulte o pediatra.
3. Reação não é sinal de eficiência
Com exceção da BCG intradérmica – que é dada ainda na maternidade e
deixa uma marquinha na pele quando acontece a pega –, não se espera que
nenhuma vacina dê sinais de que o sistema imunológico passou a produzir
anticorpos contra a doença. “Não há por que se preocupar”, garante Ana
Paula Moschione, médica assistente da Unidade de Alergia e Imunologia do
Instituto da Criança de São Paulo. Afinal, as vacinas já foram testadas
e se mostraram eficientes. Em situações especiais, exames de sangue
podem verificar a proteção contra rubéola e hepatites A e B. Além disso,
apenas de 10% a 15% das crianças apresentam reações – como febre,
irritabilidade e dor de cabeça ou no local da picada – e, mesmo nelas,
os efeitos são brandos. “A maioria não tem nada, o que não significa que
a vacina foi inútil”, afirma Ana. Se seu filho for do time que se
ressente com a vacina, é fácil resolver. Faça compressas frias no local
da picada até 24 horas depois da aplicação. Desse período em diante, se o
inchaço continuar, use compressa quente. Caso haja dor ou febre, pode
dar o analgésico ou o antitérmico recomendado pelo pediatra. Mas nunca
utilize esses medicamentos preventivamente, antes da vacina, pois eles
interferem em sua ação.
4. Onde aplicar
Posto de saúde, clínica particular ou consultório do pediatra. Cada
lugar tem suas vantagens e cabe a você optar de acordo com suas
possibilidades e convicções. Nos postos, o benefício é o custo zero.
“Mas, nas clínicas de vacinação e nos consultórios pediátricos, costuma
haver versões mais completas ou que provocam menos reações do que as
oferecidas pelo governo”, pondera Kfouri. Um exemplo é a vacina
pneumocócica – os postos aplicam a 10-valente e as clínicas a
13-valente, que protege contra uma gama maior de bactérias causadoras de
pneumonias e meningites. Seja qual for a escolha, é importante que o
local seja bem higienizado, fiscalizado pela Vigilância Sanitária e que
disponha de geladeira ou câmara com controle de temperatura para o
armazenamento, além de mecanismo de proteção em caso de falta de
energia. Em consultórios pediátricos, o médico deve ter credenciamento e
alvará especial, emitidos pela Vigilância Sanitária. Vale checar.
Vacine seu filho sempre no mesmo lugar – assim, se a carteirinha dele se
extraviar, é possível recuperar os registros sem ter de repetir a dose.
5. Agrupar vacinas funciona
É fato: nenhuma criança gosta de tomar vacina. Não é à toa, portanto,
que a combinação de diferentes imunizantes em uma única dose seja uma
tendência, pois garante, com menos picadas, a mesma proteção que seu
bebê teria tomando cada uma individualmente. “O agrupamento, no entanto,
só é possível quando a interação entre os componentes não interferir na
eficiência de cada fórmula nem provocar efeitos colaterais”, explica o
pediatra e imunologista Victor Nudelman, do Hospital Israelita Albert
Einstein, em São Paulo. “Para garantir a segurança, as polivacinas
passam por testes rigorosos em órgãos como o FDA, a agência
governamental que aprova medicamentos nos Estados Unidos, e a Anvisa, no
Brasil”, completa Ana. Por isso, fique descansada em relação à outra
novidade que passa a vigorar no calendário oficial de vacinação em
agosto: a atual tetravalente (difteria, tétano, coqueluche e hemófilos
tipo B) será substituída pela pentavalente, que imuniza também contra a
hepatite B. Serão três doses – aos 2, 4 e 6 meses. A pentavalente foi
criada pela Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, e pelo Instituto
Butantan, em São Paulo. Veja mais informações sobre o imunizante.
Cientistas brasileiros trabalham para, em quatro anos, substituí-la
pela heptavalente, que incluirá a pólio injetável e contra meningite C
conjugada.
6. A gotinha é segura
Talvez você tenha ficado ressabiada quando, no segundo semestre do ano
passado, veio a público o caso do menino de 1 ano e 4 meses, de Pouso
Alegre (MG), que desenvolveu paralisia após receber a terceira dose da
vacina antipoliomielite em gotas. Na época, o Ministério da Saúde
esclareceu que casos de contaminação são raros e acontecem na proporção
de 1 para cada 3 milhões de doses aplicadas. Anunciou também que
estudava a substituição da vacina em gotas, Sabin, pela injetável, Salk,
na imunização de bebês no primeiro semestre de vida, os mais
vulneráveis. Mudança feita! A partir de agosto, os postos de saúde vão
aplicar a pólio injetável em crianças que iniciam o processo de
imunização. Para as demais e nas campanhas, continuam as gotinhas. “A
diferença é que a vacina injetável usa o vírus inativo, menos agressivo
do que o vírus atenuado da versão oral”, explica Ana. Nas clínicas
particulares, a injetável já é oferecida conjugada com a pentavalente.
7. Quando aderir às campanhas
O objetivo da vacinação em massa é formar uma muralha de proteção
imunológica para que, se alguém for contaminado fora do país, a doença
não se espalhe. Se seu filho está com a vacinação em dia, a participação
fica a seu critério. Caso ele tenha recebido uma vacina recente, não
existe risco em imunizá-lo contra a mesma doença. “O único reforço que
sempre aconselhamos é o da Sabin. Nem tanto por um cuidado pessoal, mas
para proteção da comunidade”, diz Ana. O vírus da vacina, enfraquecido,
se espalha pela população, criando uma imunização indireta, benéfica a
todos.
8. As doenças vão... e voltam!
No ano passado, a Organização Mundial da Saúde fez um alerta para o
risco de surtos de sarampo em vários países e, por aqui, a coqueluche
voltava a dar as caras. Por que doenças que contam com vacinas há tanto
tempo estão ressurgindo? Não dá para analisar o efeito da imunização do
ponto de vista individual. Como explica Nudelman, quando se pensa numa
população, pode ser que poucas pessoas tenham sido imunizadas, que a
pega da vacina usada era pouco eficiente ou que ela tivesse duração
limitada. “Sem falar que nenhuma vacina é 100% eficaz”, diz o médico. No
caso da coqueluche, a maior taxa de contaminação ocorre hoje entre
adolescentes e adultos. Nesse público, a doença é confundível com
resfriado e não traz maiores complicações. O problema é se o infectado
entra em contato com um bebê não vacinado. “Neles, a doença é grave. Por
isso, é importante renovar a aplicação da vacina em babás, pais e
professores que convivem com crianças pequenas”, diz Kfouri.
O que vem por aí
Todos os dias aparecem novidades: “Uma das promissoras é a vacina
contra dengue, que deve chegar em 2013”, destaca o pediatra Renato
Kfouri, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações. Novas versões
de vacinas conjugadas contra a meningite bacteriana também estão a
caminho. E o Instituto Butantan, em São Paulo, pesquisa uma versão
anticoqueluche específica para bebês. Atualmente, a imunização é feita
com o vírus inativo, que leva o sistema imunológico a produzir
anticorpos capazes de combater a bactéria ativa. Mas esse processo não
funciona bem quando as defesas do organismo ainda são imaturas. Como
alternativa, os pesquisadores desenvolvem uma linhagem da bactéria da
turbeculose que promove o combate à coqueluche desde os primeiros meses.
Já foi testada em camundongos com bons resultados, mas ainda não há
previsão de chegada ao mercado.
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