segunda-feira, 16 de julho de 2012

Coração em segurança

Especialistas em doenças cardiovasculares do Brasil e do mundo estão desenvolvendo ferramentas e métodos inovadores para o peito bater sempre com vigor.

Em maio, centenas de médicos se reuniram em São Paulo durante um simpósio promovido pela American College of Cardiology Foundation, dos Estados Unidos, em parceria com a Sociedade Brasileira de Cardiologia. "O evento traçou um panorama do que se faz atualmente na área e discute novas tendências em tratamento e diagnóstico", explica o cardiologista André D Avila, codiretor do Serviço de Arritmia do Mount Sinai Hospital, em Nova York, e um dos palestrantes do encontro. Algumas das novidades que trarão alívio para o peito de muitos brasileiros foram discutidas no seminário. Uma delas é uma técnica com potencial para curar de vez a hipertensão. Outra é um exame que promete afastar o fantasma de um infarto. As boas-novas não param por aí. Confira nas próximas páginas o que a medicina está fazendo para tirar do coração - ou melhor, de suas falhas - o inglório título de principal causador de mortes no planeta.

Bem antes de entupir geral

Detectar as placas de gordura é um procedimento trabalhoso. Um dos métodos mais empregados é o cateterismo, no qual um cateter equipado de uma microcâmera é inserido na perna do indivíduo e viaja até encontrar o vaso comprometido. Um exame de imagem utilizado para encontrar microtumores malignos, o PET-CT, agora está sendo estudado para descobrir a presença de placas ainda em estágio inicial. E o melhor: é menos invasivo. Mesmo nessa fase de gestação engordurada, elas podem fomentar infartos (veja o infográfico no slide-show abaixo). Daí a importância de detectá-las quanto antes. Um dos pioneiros na nova técnica é o Mount Sinai Hospital, nos Estados Unidos. "O diferencial é que conseguimos unir na mesma sala duas máquinas: a da tomografia e a de emissão de pósitrons, partícula atômica que reage a uma substância radioativa aplicada no paciente antes do exame", explica o cardiologista André D Avila, codiretor da instituição. A pessoa recebe pela veia um líquido inócuo, que é capaz de aderir a placas pequenas e inflamadas - o calor da inflamação é fator-chave para a máquina visualizar o perigo. As minivilãs hoje passam batido pelo cateterismo, que só detecta o mal quando o vaso já está mais de 50% obstruído.

Artérias jovens por mais tempo

VOP, ou velocidade da onda de pulso: parece um palavrão, mas tem tudo para se tornar uma expressão tão conhecida como a famosa "pressão 12 por 8". A sigla, que representa a velocidade que o sangue leva para percorrer determinado trecho do sistema circulatório, determina quão envelhecida a nossa artéria está (veja o infográfico no slide-show abaixo). "Essa informação diferencia, por exemplo, dois indivíduos com a mesma pressão sanguínea e a mesma idade. O que apresentar maior rigidez arterial terá mais risco cardiovascular", aponta o cardiologista Marcus Malachias, professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, em Belo Horizonte. A instituição mineira atualmente já mede a VOP de seus pacientes com um aparelho semelhante ao medidor de pressão. "A tendência é que em cinco anos esse teste seja realizado em larga escala", completa Malachias.

A era dos marca-passo minúsculos

O primeiro implante dessa engenhoca que já salvou milhares de vidas foi realizado em 1958, na Suécia. Na época, o dispositivo tinha o tamanho de um disco de hóquei e dois eletrodos, conectados à área do coração responsável por coordenar os impulsos elétricos que geram os batimentos. Desde então, a tecnologia evoluiu e, hoje, a maioria dos aparelhos implantados têm em torno de 4 centímetros. A tendência é que esse tamanho diminua ainda mais. A Medtronic, fabricante de tecnologias médicas, anunciou este ano na Suíça que está desenvolvendo um novo marca-passo. Mas este será menor que uma moeda e, se tudo der certo, poderá ser implantado diretamente no músculo cardíaco. Entretanto, as pesquisas ainda estão em fase inicial e não há previsão de quando o equipamento estará disponível no mercado.

O celular que evita infartos

Um morador de uma cidade do interior de São Paulo sem cardiologista precisa saber urgentemente a quantas anda seu coração. Através de um celular, os profissionais que o atendem na localidade obtêm em menos de uma hora o laudo do eletrocardiograma, que normalmente demoraria dias para chegar (conheça no infográfico ao lado como o serviço funciona). Essa tecnologia de ponta foi criada por especialistas do Instituto Dante Pazzanese, em São Paulo, o que valeu à equipe o Prêmio SAÚDE 2011. O sistema se utiliza da telemedicina - conceito que define a realização de exames e tratamentos a distância - para ajudar mais de 200 pessoas por dia. Todo o trabalho é feito pelos especialistas do centro de referência paulistano. "O grande diferencial do nosso sistema é não depender de internet nem de computadores para transmitir o exame à central, apenas do sinal de celular", conta o cardiologista Francisco Faustino França, um dos idealizadores do projeto. "Trabalhamos com três operadoras diferentes para garantir que sempre haja uma rede disponível." Ao todo, a equipe já realizou 380 mil exames em 125 pontos espalhados pelo estado. Esse número só tende a crescer.

Controlar a pressão por meio do rim

Como tratar a hipertensão nos indivíduos que não conseguem brecar sua disparada com medicamentos? Essa pergunta começou a ser respondida no Simpósio de Cardiologia, realizado em São Paulo no mês de maio. Um dos caminhos pode ser a ablação, técnica consagrada para tratar arritmias cardíacas. "Ela é usada para controlar o sistema nervoso simpático, responsável pelos impulsos elétricos que regulam, entre outras coisas, a pressão sanguínea", esclarece o cardiologista André D Avila, do Mount Sinai Hospital, em Nova York, que já realiza o procedimento em alguns pacientes (veja o infográfico ao lado). Diferentemente da ablação tradicional, que é realizada na veia pulmonar, o método foca a artéria renal. "O rim é mais fácil de ser alcançado, daí, há menos efeitos colaterais," finaliza D Avila.

A camiseta que avalia o peito

Diante da suspeita de algum problema cardiovascular, muitas vezes os médicos recomendam o uso de um aparelho chamado holter para monitorar a frequência cardíaca por um longo período de tempo enquanto o indivíduo realiza suas atividades diárias ou testes de esforço. A principal desvantagem dele é a falta de praticidade, já que se trata de um dispositivo acoplado à cintura ou ao pescoço com vários eletrodos fixados no tórax. Como alternativa ao trambolho, chega ao Brasil a camiseta Vital Jacket, equipada com eletrodos que medem a atividade do coração com a mesma eficiência do holter. "Ela conta com um chip que analisa os dados e os transmite via bluetooth ao computador. É possível monitorar a pessoa por até 72 horas", explica a cardiologista Isa Bragança, da Clínica Desportiva Cardiomex, no Rio de Janeiro, uma das primeiras no país a adquirir a tecnologia.  

Como as placas de gordura serão flagradas
O que os métodos atuais enxergam Quando a gordura começa a se acumular nas artérias, forma placas cobertas por uma capa feita de fibras que as mantêm grudadas na parede arterial. A placa cresce lentamente e só se torna visível a exames como o cateterismo quando obstrui mais de 50% do vaso.
Com o novo teste
Ele mostrará a placa ainda em processo de desenvolvimento e, o melhor, inflamada. É que, nesses casos, o ateroma, outra alcunha da ameaça, pode se romper com facilidade e se misturar ao sangue. As defesas encaram esses fragmentos gordurosos como invasores e tentam barrá-los. Os destroços de sucessivos embates se acumulam. Um entupimento total passa a ser questão de tempo.

Na velocidade do sangue
Como a idade das artérias pode ser determinada

As artérias saudáveis são elásticas e fazem um movimento de estica e puxa, chamado de reflexão, enquanto o sangue transita lentamente através delas.

Artérias envelhecidas geralmente se enrijecem. Assim, o movimento de reflexão deixa de ser feito e o líquido vermelho passa a toda. Quanto maior a velocidade, pior o estado do vaso.

Do chip ao cardiologista
Em minutos, é possível analisar o coração a distância

No sistema que se vale da telemedicina, o eletrocardiógrafo, a máquina que analisa os batimentos cardíacos, conta com um chip de celular embutido. O chip digitaliza os batimentos cardíacos detectados no exame e envia os dados em um formato semelhante ao das mensagens de texto utilizando o sinal da operadora que estiver disponível. Em São Paulo, os computadores convertem os códigos novamente em batimentos cardíacos e uma equipe de médicos a postos produz os laudos, que são retransmitidos ao local de origem também por mensagem de texto.

Lesionado para curar
Um tipo de queimadura pode tratar diversos males

Através de uma inserção na perna, um cateter com uma microcâmera e um ponto de radiofrequência entra na corrente sanguínea. Ao chegar à artéria renal, a microcâmera focaliza os locais que serão alvo do tratamento. O ponto de radiofrequência esquenta até que o nervo ao redor do vaso seja lesionado. A lesão atinge o nervo que emitia o sinal elétrico errado e bloqueia a transmissão do impulso defeituoso, normalizando a corrente elétrica e a pressão.


Fonte: Revista saúde - editora ABRIL

Nenhum comentário:

Postar um comentário