Muitos questionamentos surgem nessa fase. Para esclarecê-los, reunimos um time de especialistas em aleitamento materno. Leia as sugestões a seguir:
Depois de longos nove meses de espera, o bebê chegou. Juntamente com ele, nasce uma porção de questionamentos sobre o principal cuidado com o pequeno nessa fase: a alimentação. Para esclarecer todos eles, reunimos um time de experts em aleitamento materno. Leia nosso dossiê e seja você também uma especialista no assunto:
1. Qual a dieta mais recomendada durante a amamentação?
Não existe um cardápio pré-determinado. O ideal é que a mãe se alimente
da maneira mais saudável possível, dedicando especial atenção aos
líquidos. "A mulher costuma sentir muita sede nessa fase porque a água é
matéria-prima para a fabricação do leite", explica o pediatra Luciano
Borges, vice-presidente do Departamento de Aleitamento Materno da
Sociedade Brasileira de Pediatria.Outra dica é fazer várias refeições balanceadas ao longo do dia. "O bebê rouba os nutrientes da mãe e, por isso, o organismo dela deve estar o mais equilibrado possível", informa o nutrólogo e pediatra Ary Lopes Cardoso, do Instituto da Criança, do Hospital das Clínicas de São Paulo. Os especialistas concordam: comer cinco ou seis vezes ao dia e investir em frutas e fibras, além de não abusar dos doces, é um ótimo caminho.
2. Existem restrições alimentares? O que não devo comer?
A princípio, não há alimento proibido para a nutriz - nome dado à mãe
que amamenta. Se houver alguma reação negativa do bebê em aleitamento
materno exclusivo, aí, sim, pode-se suspeitar de sensibilidade ou
alergia alimentar a alguma substância que a mulher tenha ingerido.Segundo Ary Lopes, os campeões nesse processo são: leite de vaca, castanhas (como o amendoim), frutos do mar e carne de porco. Antes de pensar em eliminar os itens do cardápio, é preciso que o médico constate a ligação entre eles e as cólicas do bebê.
O álcool deve ser evitado. A substância pode dificultar a absorção de nutrientes pela mãe, além de ser absorvido pela criança através do leite materno. Já fontes de cafeína precisam ser consumidas com moderação. "O recomendado são até duas xícaras de café por dia", orienta o nutrólogo Celso Cukier, do Instituto de Metabolismo e Nutrição, em São Paulo. Segundo o médico, não se sabe se a substância é prejudicial aos pequenos. Por isso, o melhor é não abusar.
3. Posso fazer regime durante a amamentação para diminuir as medidas?
Cortar calorias é perigoso, já que o organismo precisa de muita energia
para produzir o leite materno. "Dietas rigorosas nessa fase podem
implicar em perda de massa magra, ou seja, músculos e energia", explica o
nutrólogo Ary Lopes. Para alimentar o seu bebê, estima-se que as
mulheres precisam de 20% a mais de calorias do que as necessárias em
outra fase da vida. Isso significa o total médio de 2,4 mil calorias
diárias. Portanto, não se preocupe: invista em uma alimentação saudável e
o ato de amamentar fará você voltar ao seu peso normal gradualmente.
4. Não estou voltando ao meu peso. Como emagrecer?
Basta aliar a dieta saudável aos exercícios físicos. Entre 30 a 40 dias
depois do nascimento do bebê, você pode começar a caminhar cerca de uma
hora e meia por dia. Mas mantenha seu médico informado sobre as
atividades que pratica. "Depois de três meses, a mãe já está liberada
para fazer esportes normalmente. Se for atleta, pode voltar aos treinos.
Caso esteja iniciando, é melhor optar por atividades aeróbicas, como a
caminhada", explica Ary Lopes. O especialista enfatiza que o gasto
calórico durante a amamentação é bem alto, daí a necessidade de se
alimentar corretamente.
5. Adoçantes e outros alimentos light e diet estão liberados?
Não existe consenso sobre os malefícios desses produtos para a saúde da
criança. Porém, como diversas pesquisas apontam nessa direção, a
recomendação dos médicos é fazer um uso leve ou moderado das
substâncias. "Elas não são saudáveis. O melhor é usar açúcar mesmo, mas
em menor quantidade", aconselha o pediatra Luciano Borges. O nutrólogo
Celso Cukier lembra que 1 grama de açúcar tem apenas 4 calorias.Se mesmo assim a mãe quiser fazer uso de adoçantes, o ideal é que não passe de dois envelopes por dia (ou duas colheres de café, se for pó, ou dez gotas, se for adoçante líquido). Os produtos light e diet também não devem ser consumidos à vontade. "Como são utilizadas moléculas químicas para produzir o sabor adocicado, podem não fazer bem para o organismo", explica Celso. Ary Lopes resume a orientação: "Durante o aleitamento, não é hora de contar calorias, e sim selecionar melhor os alimentos".
6. E os remédios? Devo manter as mesmas restrições da gravidez?
Durante a amamentação, vários medicamentos estão liberados. Para ter
certeza do que você pode ou não pode tomar, é essencial consultar o
médico. No pós-parto, assim como em qualquer fase de vida, a
automedicação nunca deve ser praticada.
7. Posso tomar pílula anticoncepcional?
Apenas as que não contêm estrógeno em sua composição. "Acredita-se que
esse hormônio feminino possa chegar ao bebê pelo leite, o que causaria o
desequilíbrio hormonal na criança", explica o obstetra e ginecologista
Luiz Fernando Leite, do Complexo Santa Joana/Pro Matre, em São Paulo.
Para as mulheres que amamentam, o médico recomenda pílulas de
progesterona, anticoncepcionais injetáveis, subcutâneos ou DIU. "Esse
último só pode ser colocado 50 ou 60 dias após o parto", esclarece
Leite.
8. É possível engravidar durante a fase de amamentação?
Sim. Por isso a importância de utilizar algum método anticoncepcional
caso outro bebê não esteja nos planos do casal tão a curto prazo. "A
prolactina, o hormônio responsável pela produção de leite no organismo
feminino, inibe a gravidez, mas não se sabe até que ponto", explica o
obstetra Luiz Fernando Leite. Segundo o médico, é importante dar início
ao uso de algum contraceptivo cerca de 30 ou 40 dias após o nascimento
do bebê.
9. Por quanto tempo deve-se amamentar a criança?
A Organização Mundial da Saúde e o Ministério da Saúde recomendam a
amamentação exclusiva por seis meses. O pediatra Luciano Borges ressalta
que mesmo as mães que voltam ao trabalho antes desse tempo podem
continuar alimentando o bebê só com o leite do peito. "É possível
ordenhar o leite e, durante o período em que a mulher estiver fora,
pedir para alguém dar o líquido à criança utilizando um copo específico
para esse fim", diz. O especialista alerta para que se mantenha o
pequeno longe de mamadeiras - mais fácil para o bebê sugar, ela tende a
desestimular a amamentação direta no peito.Após os seis meses, o Ministério da Saúde recomenda que o leite materno continue sendo oferecido em parceria com a alimentação complementar. Isso pode se estender até os 2 anos de idade ou mais. Borges ressalta ainda que a introdução de novos alimentos provoca a diminuição gradual no número de mamadas ao longo do dia. Assim, naturalmente, acontece o desmame.
10. Meu bebê só quer o peito, embora já esteja na idade de comer outros alimentos. O que faço?
Essa situação é bastante comum. "Uma boa tática é passar para o pai ou
outra pessoa próxima a função de alimentar a criança, pois ela tende a
associar a mãe com a amamentação, recusando outro alimento", explica o
pediatra Luciano Borges. Insista até o bebê aprender a comer. Para isso,
vale conversar com a criança e estipular horários de mamar e horários
de comer a papinha, a sopa... "É uma estratégia eficiente, inclusive,
para educar e estabelecer limites à criança", explica a consultora de
amamentação Lívia Teixeira, do Consultório de Aleitamento Materno, em
Salvador.
11. Prótese de silicone nos seios atrapalha o aleitamento?
Em geral, as próteses não interferem nesse processo porque são
colocadas abaixo da glândula mamária ou atrás do músculo peitoral. Nessa
posição, não influenciam a produção de leite.Para Luciano Borges, no
entanto, quando a quantidade de silicone é muito grande e
desproporcional ao peito, é possível, sim, haver problemas. O
especialista Ary Lopes concorda: "Por causa da cirurgia, a anatomia e a
pressão dos dutos que irrigam as mamas podem ser alteradas", explica.
Algo semelhante pode acontecer nas cirurgias redutoras de seios. "Se o
tecido mamário for lesionado, a produção de leite sofrerá as
consequências", afirma Luciano Borges.
12. Como fazer o bebê arrotar? Existe algum problema se isso não acontecer?
Após a mamada, a mãe deve segurar a criança no colo e deixar o corpo
dela o mais em pé possível, com a cabecinha apoiada no ombro, por cerca
de dez minutos. "Vale dar os clássicos tapinhas nas costas para agilizar
o processo", recomenda Ary Lopes. O arroto é provocado pela ingestão de
ar durante a sucção feita pelo bebê. Assim, se ele pegar o peito de
maneira correta e mamar bem, é possível que não arrote. "Isso não deve
ser motivo de preocupação para os pais", acalma o vice-presidente do
Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de
Pediatria, Luciano Borges.
13. Quanto tempo deve durar cada mamada? Qual o intervalo ideal entre elas?
Varia muito de criança para criança, pois cada uma tem o seu jeito
próprio de se alimentar. Ary Lopes estima que cerca de dez minutos em
cada peito são mais do que suficientes - mas nos primeiros dias, quando o
hábito começa a ser estabelecido, o tempo pode ser bem maior.Vale explicar ainda que a duração da mamada não tem a ver com a quantidade de leite ingerido, já que a eficiência da sucção também é variável. Segundo Luciano Borges, do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria, o importante é prestar atenção no intervalo entre as mamadas. Ele costuma ser de duas a quatro horas. "Se passar disso, é preocupante. Informe o médico", diz.
14. É aconselhável acordar o bebê para mamar durante a madrugada?
Se você faz parte do time das sortudas que, em vez de ter o sono
interrompido pelo pequeno, estão em dúvida se devem ou não despertá-lo
para dar leite no meio da noite, os médicos recomendam que se fique
tranquila. "Quando o bebê está bem e ganhando peso normalmente, não há a
necessidade de acordá-lo", explica Luciano Borges. Ary Lopes concorda.
15. Como saber se a criança mamou o suficiente?
A única maneira de ter certeza é verificar o ganho de peso nas
consultas pediátricas. "Para ter uma ideia se o pequeno está satisfeito,
preste atenção nas pistas dadas por ele: logo após mamar, deve estar
bem relaxado e tranquilo. Além disso, a quantidade de xixi feita ao
longo do dia deve ser suficiente para seis fraldas", explica a
consultora em amamentação Lívia Teixeira, do Consultório de Aleitamento
Materno, de Salvador.
16. O que posso comer ou fazer para aumentar a quantidade de leite?
Não existe um alimento que cumpra essa função. O maior estímulo para a
produção de leite é a própria sucção do bebê. Além disso, você deve
ingerir bastante água - uma matéria-prima essencial a esse processo. "É
importante esvaziar o peito para que a produção não pare. Então, se o
bebê não mamar todo o leite disponível, ordenhe as mamas até ficarem
vazias", alerta Lívia Teixeira.
17. Como esvazio as mamas?
Coloque o dedo indicador e o polegar na linha da auréola e empurre a
mama em direção ao tórax, fazendo um movimento como se quisesse
aproximar os dois dedos. "Desse jeito, pressionam-se os dutos e o leite
sai", explica Lívia Teixeira. Existem acessórios que também fazem esse
trabalho, mas Luciano Borges alerta: "É preciso muito cuidado com os
ordenhadores mecânicos, pois alguns modelos podem causar problemas, como
fissuras nos seios". A técnica pode ser aplicada antes da amamentação
para deixar as mamas mais flexíveis e ao longo do dia, quando a mãe
sentir que os seios cheios estão provocando dor.
18. Quando o leite acaba, a produção está encerrada de vez?
Primeiro, é preciso derrubar um mito: o leite não acaba. O que acontece
muitas vezes, segundo Luciano Borges, é que a falta de estímulo para a
amamentação bloqueia a produção do líquido. "Um trauma psicológico que
afete a mulher ou simplesmente a ausência de sucção do bebê, devido à
introdução de mamadeira, por exemplo, são algumas das causas mais
comuns", diz. Mas isso pode ser revertido.Para que as mamas voltem à ativa, nada melhor que o estímulo do próprio bebê. "As mães só não podem confundir leite secando com uma diminuição da produção, que é normal e significa apenas que mãe e bebê estão entrando em equilíbrio, ou seja, ela produz apenas a quantidade de que ele necessita", explica o pediatra. Se a mãe continuar insegura ou o problema não for normalizado em curto espaço de tempo, é bom consultar o médico.
19. Posso dar água ao bebê que está no aleitamento materno exclusivo?
Não. O leite materno já contém água suficiente em sua composição para
hidratar o pequeno. "Esse é o alimento mais completo que existe. Não é
preciso oferecer mais nada à criança durante os seus seis primeiros
meses de vida", explica Ary Lopes.
20. Meu filho sempre engasga. É normal?
"Isso pode ser sinal de que o bebê não está mamando corretamente",
aponta Luciano Borges. "Ou que o leite esteja saindo com muita força."
Nesse caso, o jeito é tirar a criança do peito, limpá-la e voltar quando
a respiração do pequeno estiver normal. "Não há motivo para se
preocupar", diz Borges. Para saber se a causa do engasgo é a mamada
incorreta, cheque alguns pontos.A criança deve ficar bem de frente para as mamas, com a cabeça e o tronco alinhados, as nádegas apoiadas, o queixo tocando o seio, a boca bem aberta e o lábio inferior voltado para fora. "Certifique-se de que a auréola do seio está mais visível acima da boca do bebê do que abaixo. Olhe também para as bochechas do pequeno - que devem estar arredondadas - e preste atenção se há algum barulho além do da deglutição".
Fonte: Revista saude - editora ABRIL
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