segunda-feira, 18 de março de 2013

A hora certa de tirar o siso

Aguardar pelos sintomas de incômodo na gengiva pode ser uma grande roubada para a saúde da sua boca.


Como eles normalmente despontam em uma idade que coincide com o início das responsabilidades da vida adulta, é inevitável: basta alguém dizer que arrancou o terceiro molar para ouvir a piada de que perdeu o juízo. A ironia é que dois estudos americanos sugerem que a falta de senso pode estar justamente em mantê-lo. Isso porque, sem acompanhamento e higiene adequados, esses dentes camuflam encrencas graves.

Embora a maioria só procure o dentista depois de sentir a dor provocada quando o siso rasga a gengiva, especialistas indicam que o melhor período para retirá-lo é entre os 15 e os 18 anos, antes de ele irromper. "Nessa faixa etária, a raiz não está completamente formada, tem cerca de dois terços, e o osso é mais maleável", justifica Marisa Gabrielli, cirurgiã bucomaxilofacial da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Araraquara, no interior paulista. Além disso, lembra o também cirurgião Gustavo Giordani, do Ateliê Oral, em São Paulo, a recuperação de um adolescente é mais rápida que a de um adulto. "O ideal é fazer o monitoramento com radiografias a partir dos 15 anos, para avaliar o momento mais oportuno", ele sugere.

Se houver espaço suficiente para o dente se acomodar, é possível conviver com ele, mas assumindo o risco de encarar alguns dramas. Instalado numa região difícil de alcançar, esse molar costuma ser negligenciado durante a limpeza, tornando-se um prato cheio para bactérias. Um panorama da encrenca que isso pode causar vem da Universidade de Cincinnati, nos Estados Unidos. Ali, um estudo avaliou sisos sem nenhum sinal de que algo estava errado e descobriu um grande número de casos de infecções silenciosas capazes de afetar a gengiva, a raiz e os ossos da face. "Por isso, se a decisão for mantê-lo, é preciso fazer exames de imagem periódicos para detectar doenças antes de surgirem complicações", adverte Robert Marciani, autor do trabalho.

Até porque a enrascada pode ir além da boca, como mostra outra pesquisa americana, da Universidade da Carolina do Norte. Feita em pacientes com o siso baqueado, ela constatou um aumento da proteína C-reativa, que indica a presença de inflamação no organismo. "Essa molécula é diretamente relacionada a panes cardiovasculares, principalmente infartos e derrames", alerta José Flávio Torezan, cirurgião bucomaxilofacial do Hospital-Sírio Libanês, em São Paulo.

O siso faz parte de um trio de molares responsáveis por amassar o alimento na fase final da mastigação. No tempo dos nossos avós, sem a farta oferta de produtos de limpeza bucal que temos hoje, era habitual perder o primeiro deles. Assim, o terceiro tornava-se um substituto à altura. Com os avanços nessa área, ficou mais fácil conservar a dentição completa, levando o dente do juízo a ficar em desvantagem. Para não desalinhar a mordida, o aperto na gengiva passou a ser a justificativa mais comum para a sua extração.

Mas a lista de fatores apontados por especialistas para sua retirada preventiva é considerável. Para começar, esse componente tardio da dentição gosta de nascer em posições inconvenientes e danificar os vizinhos, isso quando não se infiltra no osso. Ele vive também em constante movimentação angular. Quando está parcialmente erupcionado, fica exposto às bactérias que causam cáries e infecções. Existe ainda a probabilidade de aparecerem cistos e tumores em seu entorno (veja mais informações nos gráficos da página ao lado).

Sem temer a cirurgia

Antes de partir para a remoção, os profissionais recorrem a um raio x panorâmico, responsável por uma avaliação precisa sobre o posicionamento do siso, com atenção especial aos da mandíbula inferior, que costumam dar mais trabalho.

Para os que tremem só de pensar na cadeira do dentista, Augusto Pary, cirurgião bucomaxilofacial do Rio de Janeiro, garante que a operação é relativamente fácil, principalmente se for feita no momento adequado. "O procedimento tem índice muito baixo de complicação, por isso vale a pena tirar logo esses dentes e ficar livre de problemas", ele recomenda.

Utiliza-se a anestesia local, e um tranquilizante é bem-vindo. "Ele ajuda o paciente a relaxar, mas não impede que fique acordado. Isso facilita o trabalho do profissional", explica Pary. Em casos críticos - e raros -, é possível lançar mão da anestesia geral e a intervenção é feita em hospital. Já o pós-operatório... Vamos ser honestos e dar logo a má notícia. Ele é, sim, bastante dolorido, provoca inchaço e dificulta a alimentação. Muitos acham mais seguro arrancar dois sisos por vez, de modo que um lado da boca garanta a mastigação. A questão é que a movimentação torna a recuperação mais traumática, motivo pelo qual há quem recomende resolver tudo numa tacada só.

"Se a pessoa tirar dois ou quatro dentes, a dificuldade será a mesma", opina José Flávio Torezan. "Não é melhor então sofrer uma única vez? Serão três ou quatro dias de molho, com alimentação pastosa, e pronto", aconselha. Para Gustavo Giordani, cabe ao paciente tomar a decisão que o deixe mais seguro e, seja ela qual for, o importante é não descuidar da higiene da boca nesse período. Deve-se optar por uma escova ultramacia e fazer movimentos suaves, usando também os antissépticos receitados pelo dentista.

Alguns poucos sortudos nem tomam conhecimento dessa novela toda, porque simplesmente não têm os terceiros molares. Pela evolução natural humana, essa ausência está se tornando mais comum nas últimas décadas, sem que isso represente prejuízos funcionais ou estéticos. "O problema é quando apenas um deles não aparece", constata Giordani. "Nesse caso, o siso que surge ficará sem par na mordida. Assim, mesmo com espaço, é preciso removê- lo, já que não terá antagonista", afirma.

A regra de ouro, portanto, é acompanhar o crescimento dos dentes. Depois, o de sempre: escovação bem-feita, fio dental mesmo naqueles mais escondidinhos e, claro, nada de fugir da visita ao odontologista. "O ideal é aparecer a cada seis meses. Se não for possível, pelo menos uma vez por ano", pondera Torezan. Tenha juízo e o seu sorriso agradece.


Remoção em crianças é incomum
Em 1976, o ortodontista americano Robert Ricketts propôs a eliminação do chamado germe do siso ainda na infância, com base na análise de espaço da arcada. "Nesse procedimento, hoje muito raro, suga-se o dente enquanto ainda é um gel", diz José Flávio Torezan. O impasse é que nessa fase é impossível saber se o terceiro molar seria ou não saudável. A vantagem é a cicatrização rápida que a garotada costuma apresentar.


Dentes de leite surgem aos 6 meses; permanentes dão as caras aos 6 anos




Terceiro molar marca a fase final do desenvolvimento da dentição


Do germe ao último permanente

O primeiro sinal de mineração do siso aparece entre os 7 e os 11 anos. A coroa estará formada aos 14 anos, mas não é seguro retirá-la. "É tecnicamente difícil porque, ainda sem a raiz, a coroa acaba rodando na gengiva", explica o cirurgião Augusto Pary.


As raízes e a busca por espaço

A partir dos 16 anos, dois terços da raiz começam a se formar. O siso está mais firme e longe do nervo mandibular, que dá sensibilidade aos dentes inferiores e aos ossos do queixo. Assim, sua retirada é como um desencaixe com o uso de um pouco de força.


O perigo da remoção tardia

Até os 25 anos, a raiz está completa e pode abraçar o nervo, aumentando o risco de rompê-lo na extração. Com os ossos da face mais rígidos, o perigo de fratura também é grande. O processo de cicatrização é mais lento e pode durar até dois meses.


Menos de 20% das pessoas estão livres de crises como estas


Falta de espaço

Tende a empurrar os vizinhos e encavalar toda a dentição, acabando com o encaixe entre os dentes.


Má posição

Se estiver inclinado ou na horizontal, reabsorve a raiz do segundo molar, causando a degeneração.


Pericoronarite

É a inflamação do saco que reveste a coroa. Bactérias se proliferam no local, ameaçando a gengiva da região.


Cistos

Bolsas líquidas, capazes de ficar enormes, formam-se na membrana que envolve o siso, geralmente o inferior.


Tumores

Mais raros, os ameloblastomas são fibrosos e, em 80% dos casos, aparecem na mandíbula. Causam até deformação facial.


Fonte: Revista saúde

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